Novo álbum: Mavis Staples canta sobre o “Mundo Triste e Belo”

Bob Dylan a beijou no Festival de Newport em 1963 e a pediu em casamento. Anos depois, Mavis Staples contou ao New York Times que se escondeu dele em um show no Apollo, no Harlem, com medo de que ele a pedisse em casamento novamente. O mundo precisa de Dylan, que lançou seu último álbum em 2020, então ela quer ligar para ele e dizer: "Não se afaste, Bobby!". Ela mesma queria fazer o mesmo em 2023.

E então ela muda novamente. "Minha voz é um dom de Deus", disse ela na entrevista. "Se eu não a uso, estou abusando do meu dom." Ouvindo o outrora poderoso contralto da cantora de 86 anos, percebe-se que sua voz se tornou mais suave, mais delicada, mas ainda capaz de desencadear uma tempestade sombria quando ela abre seu álbum "Sad and Beautiful World" com "Chicago" — a canção de Tom Waits sobre sua cidade natal, a "cidade dos ventos", atualmente sitiada pela fúria governamental do presidente Donald Trump.

Nessa canção de blues sobre o êxodo rural, o verso central assume um segundo significado, contemporâneo: "Talvez tudo melhore em Chicago". E na balada "Hard Times", de Gillian Welch e Dave Rawlings, o "velho mundo cruel está em maus lençóis", mas não se deve deixar que as crises nos dominem. Resiliência, meu bem!

Mavis Staples é uma lenda, com mais de 75 anos de carreira. Ela cantava desde os dez anos de idade com a banda familiar Staples Singers, que vivenciou o racismo no sul dos Estados Unidos durante a segregação racial, e que se tornou a banda gospel mais famosa dos EUA, apresentando-se com humanismo e fé em Deus em defesa dos direitos dos afro-americanos.

Staples lançou álbuns solo desde 1969 e colaborou com artistas como Ry Cooder, Prince, Gorillaz, Hozier e Jeff Tweedy. O chefe do Wilco ficou impressionado com ela; o primeiro encontro deles foi "como encontrar uma nota de dólar ou uma águia-careca".

“Sad…” é composto por versões cover. O produtor de rock alternativo Brad Cook (Bon Iver, Iron & Wine) entrelaçou gospel, soul e música americana em um som acolhedor, embora não negue as forças que ameaçam a liberdade.

“Beautiful Stranger” é uma joia country do grande Kevin Morby, no espírito de Martin Luther King: “E quando os homens armados chegarem, estarei cheio de amor”. “Anthem”, de Leonard Cohen, fala dos “assassinos em altos cargos” que “recitam suas orações”, da “multidão sem lei” e da “pomba cativa da paz”. A esperança: “Tudo tem uma rachadura”, e assim “a luz brilhará”.

Mavis Staples sempre foi uma pessoa otimista – sua mãe a chamava de "Bolhas". Hozier e Allison Russell escreveram "Human Mind" sobre um presente desumanizado, mas: "Eu lido com amor (...) e não desisto".

Portanto, este também é um álbum sobre se apegar à bondade e à fé. "Godspeed", do cantor de R&B Frank Ocean, é uma despedida para jornadas perigosas. Ela canta o mantra "We gotta have Peace" de seu amigo Curtis Mayfield, que faleceu em 1999. Todos deveriam lutar pela paz e pela liberdade. Dylan também.

Ela ligou para ele? Corre o boato de que ele também está trabalhando em um novo álbum.

Mavis Staples – “Sad And Beautiful World” (Anti) – foi lançado em 7 de novembro.